blogue da disciplina de Psicologia Social da FLUP
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Assédio Moral em contexto laboral
O assédio moral caracteriza-se por comportamentos abusivos e humilhantes (gestos, palavras, acções) que prejudicam a integridade física e psíquica da vítima e que ocorrem de maneira repetitiva e prolongada transformando negativamente o ambiente de trabalho. As agressões dão-se tanto por parte de colegas do mesmo nível hierárquico (mesmo cargo/função) quanto por parte de superiores hierárquicos (chefes).
Os espaços laborais
Por Michelle Santos Jeffman
"Os espaços se fazem omnipotentes, restritos a quem ocupa o outro lado da mesa. Nos espaços transitam feições marcadas e adereços majestosos, circulam auras enegrecidas de pessoas sem vida que cumprem sua jornada de terno e gravata.
Quem domina o espaço cobre-se de jóias, grifes e perfumes, alastrando discursos hipócritas por um hálito que cheira a erva-doce.
O Dono do espaço sorri até a metade e, quando lhe convém, utiliza-se do fio que une os repartimentos, este cuja fibra perpassa o chão subterrâneo. A voz chega por ele, mas não o olhar presencial Daquele que comanda o espaço.
Na outra extremidade do fio, alguém ouve, murcha e, após o abaixar do gancho, sua parcela de mundo impregna-se de medo. Tem vontade de sumir dali ou de ir girando a cadeira em torno de si mesmo até evaporar da posição ocupada.
Na labuta diária, acorre uma experiência de laboratório social. Há uma luta contumaz pela sobrevivência emocional nos ambientes. Neles, ora a criatura se redime ora se afirma, oscilando no trajeto de busca pela marca identitária e deslocando-se na itinerância dos espaços a serem conquistados ou servirem de estagnação.
O Senhor do espaço é estranho a todos. Instala-se no outro lado da parede divisória, na mesa bem ao fundo da repartição, em território demarcado. E é protegido pelo subalterno depositário dos discursos via fio subterrâneo. Para se aproximar Dele é preciso romper divisas espaciais, mas elas estão trancafiadas por chaves pressentidas.
Mesmo quando ausente, o Sr. se faz presente no rosto, no olhar e na aura dos engravatados. E enquanto Ele se enclausura no compartimento, alguém trabalha na retaguarda, iludindo-se ao pensar que possui ou ocupa um espaço próprio."
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
A Gestão da Impressão e os Blogues
Lembro-me de ouvir António Lobo Antunes - julgo que em entrevista com Ana Sousa Dias - dizer que não devíamos acreditar no que dizia nas suas entrevistas, na medida em que estas propiciavam, de uma forma geral, que o autor .posasse para a eternidade. (versão literária, sofisticada e erudita do .posar para a fotografia. futebolístico). "É uma vaidade", dizia, "a que poucos conseguem escapar". Há todavia, formas muito díspares de «posar». Lobo Antunes falava, claro, da «gestão de impressão»: conceito desenvolvido por Erving Goffman (1993) para se referir aos esforços das pessoas para gerirem a imagem que os outros têm de si, por meio do controlo das impressões que projectam no(s) outro(s).
A premissa fundamental desta noção é, como sugere o psicólogo social Barry Schlenker, a de que .conscientemente ou inconscientemente, as pessoas tentam controlar as imagens que projectam para as audiências, reais ou imaginadas. (Schlenker, 1980: 304). Julgo ser cada vez mais evidente a presença na blogosfera de dois fenómenos habitualmente associados à gestão de impressão. Falo, designadamente, da «ansiedade do feedback» e do receio de «faux pas». A «a ansiedade do feedback» refere-se ao facto das pessoas mostrarem alguma ansiedade, por vezes obsessiva, com o feedback que recebem dos outros. Não deixa de ser sintomático que não existam - eu, pelo menos, não encontro - blogues sem mecanismos de «feedback» ou «interacção»: os contadores, os sistemas de comentários, os endereços de correio electrónico, os message boards, etc. Aliás, seria interessante poder analisar quantas vezes por dia é que os bloggers verificam as suas caixas de correio, os comentários recebidos ou os contadores. Por sua vez, o receio de «faux pas» reporta-se a um temor face à possibilidade de projectar uma imagem de inconsistência e incongruência (receio de cometer gaffes, de denunciar falta de cultura, etc.) que coloque a própria pessoa em causa. Estes aspectos não são, evidentemente, exclusivos do mundo dos blogues. Pelo contrário. São aspectos habitualmente associados às relações interpessoais e à interacção. O que parece estar a tornar-se característico da blogosfera é a sua amplificação. Este fenómeno é tão interessante, de um ponto de vista sociológico, como preocupante.
Goffman, Erving (1993), A Apresentação do Eu na Vida de Todos os Dias, Lisboa: Relógio D.Água. Schlenker, Barry R. (1980), Impression management, California: Brooks-Cole