blogue da disciplina de Psicologia Social da FLUP

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Assédio moral em contexto laboral

Assédio Moral em contexto laboral

O assédio moral caracteriza-se por comportamentos abusivos e humilhantes (gestos, palavras, acções) que prejudicam a integridade física e psíquica da vítima e que ocorrem de maneira repetitiva e prolongada transformando negativamente o ambiente de trabalho. As agressões dão-se tanto por parte de colegas do mesmo nível hierárquico (mesmo cargo/função) quanto por parte de superiores hierárquicos (chefes).


Os espaços laborais
Por Michelle Santos Jeffman

"Os espaços se fazem omnipotentes, restritos a quem ocupa o outro lado da mesa. Nos espaços transitam feições marcadas e adereços majestosos, circulam auras enegrecidas de pessoas sem vida que cumprem sua jornada de terno e gravata.
Quem domina o espaço cobre-se de jóias, grifes e perfumes, alastrando discursos hipócritas por um hálito que cheira a erva-doce.
O Dono do espaço sorri até a metade e, quando lhe convém, utiliza-se do fio que une os repartimentos, este cuja fibra perpassa o chão subterrâneo. A voz chega por ele, mas não o olhar presencial Daquele que comanda o espaço.
Na outra extremidade do fio, alguém ouve, murcha e, após o abaixar do gancho, sua parcela de mundo impregna-se de medo. Tem vontade de sumir dali ou de ir girando a cadeira em torno de si mesmo até evaporar da posição ocupada.
Na labuta diária, acorre uma experiência de laboratório social. Há uma luta contumaz pela sobrevivência emocional nos ambientes. Neles, ora a criatura se redime ora se afirma, oscilando no trajeto de busca pela marca identitária e deslocando-se na itinerância dos espaços a serem conquistados ou servirem de estagnação.
O Senhor do espaço é estranho a todos. Instala-se no outro lado da parede divisória, na mesa bem ao fundo da repartição, em território demarcado. E é protegido pelo subalterno depositário dos discursos via fio subterrâneo. Para se aproximar Dele é preciso romper divisas espaciais, mas elas estão trancafiadas por chaves pressentidas.
Mesmo quando ausente, o Sr. se faz presente no rosto, no olhar e na aura dos engravatados. E enquanto Ele se enclausura no compartimento, alguém trabalha na retaguarda, iludindo-se ao pensar que possui ou ocupa um espaço próprio."

In : http://www.partes.com.br/capaassedio.htm

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A Gestão da Impressão e os Blogues

A Gestão de Impressão e os Blogues (act.)
Lembro-me de ouvir António Lobo Antunes - julgo que em entrevista com Ana Sousa Dias - dizer que não devíamos acreditar no que dizia nas suas entrevistas, na medida em que estas propiciavam, de uma forma geral, que o autor .posasse para a eternidade. (versão literária, sofisticada e erudita do .posar para a fotografia. futebolístico). "É uma vaidade", dizia, "a que poucos conseguem escapar". Há todavia, formas muito díspares de «posar». Lobo Antunes falava, claro, da «gestão de impressão»: conceito desenvolvido por Erving Goffman (1993) para se referir aos esforços das pessoas para gerirem a imagem que os outros têm de si, por meio do controlo das impressões que projectam no(s) outro(s).
A premissa fundamental desta noção é, como sugere o psicólogo social Barry Schlenker, a de que .conscientemente ou inconscientemente, as pessoas tentam controlar as imagens que projectam para as audiências, reais ou imaginadas. (Schlenker, 1980: 304). Julgo ser cada vez mais evidente a presença na blogosfera de dois fenómenos habitualmente associados à gestão de impressão. Falo, designadamente, da «ansiedade do feedback» e do receio de «faux pas». A «a ansiedade do feedback» refere-se ao facto das pessoas mostrarem alguma ansiedade, por vezes obsessiva, com o feedback que recebem dos outros. Não deixa de ser sintomático que não existam - eu, pelo menos, não encontro - blogues sem mecanismos de «feedback» ou «interacção»: os contadores, os sistemas de comentários, os endereços de correio electrónico, os message boards, etc. Aliás, seria interessante poder analisar quantas vezes por dia é que os bloggers verificam as suas caixas de correio, os comentários recebidos ou os contadores. Por sua vez, o receio de «faux pas» reporta-se a um temor face à possibilidade de projectar uma imagem de inconsistência e incongruência (receio de cometer gaffes, de denunciar falta de cultura, etc.) que coloque a própria pessoa em causa. Estes aspectos não são, evidentemente, exclusivos do mundo dos blogues. Pelo contrário. São aspectos habitualmente associados às relações interpessoais e à interacção. O que parece estar a tornar-se característico da blogosfera é a sua amplificação. Este fenómeno é tão interessante, de um ponto de vista sociológico, como preocupante.
Goffman, Erving (1993), A Apresentação do Eu na Vida de Todos os Dias, Lisboa: Relógio D.Água. Schlenker, Barry R. (1980), Impression management, California: Brooks-Cole
de 01/07/2003

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

CRIATIVIDADE DEPENDE DE CERTAS CONDIÇÕES

Sendo este o primeiro "post" que aqui coloco, não queria deixar de referênciar que para decoração do cabeçalho do nosso blogue, foi seleccionada parte de um quadro de Marcela Rios, que por coincidência se licenciou em Filosofia aqui na Faculdade de Letras da Universidade do Porto!
Aproveito também para aqui deixar um texto, que se enquadra nesta criação da artista.




Por Guilherme Bova
Para começar uma discussão sobre criatividade vamos entender o que as pessoas comuns, de uma forma geral, pensam sobre o assunto.
No senso comum tem–se criatividade como um “dom inato” do indivíduo. Um dom que pode aflorar naturalmente desde que este indivíduo criativo seja livre para criar. Esta concepção inatista de criatividade separa as pessoas criativas das não criativas (acredita que o ser humano já nasce pronto e que pouco será influenciado pelo ambiente). Além disso, neste campo de definição a criatividade é relacionada à arte na maioria das vezes.
Um primeiro passo para confrontarmos esta definição é afirmar que todos as pessoas nascem com um potencial criativo (Experimentar, errar, imaginar e sonhar, veja ao lado). Mas esta afirmativa ainda se encaixa na concepção inatista de criatividade e não explica como as pessoas desenvolvem este potencial criativo..
Segundo Vygotski (1990), não podemos analisar uma criação individual sem levar em consideração as relações que o indivíduo criativo estabelece com outros sujeitos, relações estas mediadas pelas possibilidades e limites sociais impostos pelo momento histórico em que vivem.
Além de Vygotski, outros estudiosos como Eysenck e Gardner também sugerem que a atividade criadora não seria possível sem um contexto que envolve fatores cognitivos (tais como conhecimento e habilidade técnica) e de personalidade de quem cria, além de fatores ambientais (cultura, política e economia).
Portanto, não podemos definir a criatividade como um dom inato, pois a capacidade de criar é resultado de um aprendizado que pode ocorrer ao longo da vida de cada pessoa, desde as primeiras soluções inovadoras enquanto criança (como subir em uma caixa para pegar biscoitos no alto da mesa sem conhecer este tipo de solução) até soluções inéditas e práticas para problemas específicos na idade adulta.
Pensando desta maneira, as circunstâncias podem elevar ou tolher o potencial criativo do sujeito, independente de sua iniciativa. Quando uma mãe impõe uma regra limitadora a uma criança sem explicar o porquê ou o ambiente de trabalho é claustrofóbico e ditador, a criatividade dos envolvidos não encontra terreno fértil.
Com isso em mente, cabe ao profissional refletir sobre seu papel perante a sociedade e as relações que estabelece em seu ambiente de trabalho e em sua vida pessoal.
Assim poderá enxergar além do imediatismo da vida cotidiana e chegar a soluções realmente criativas e substanciais que solucionem efetivamente os problemas confrontados.
Imaginem se nossos políticos pensassem dessa maneira?

domingo, 20 de janeiro de 2008

Música e personalidade

Identidade social
Fonte: Super Interessante, número 117, Janeiro 2008

No presente mês de Janeiro, enquanto folheava atentamente a revista “Super Interessante”, deparei-me com o seguinte título: “Somos o que ouvimos – estudos científicos revelam a relação entre personalidade e gostos musicais”.
No decorrer da mesma e de acordo com o psicólogo norte-americano Sam Gosling, da Universidade do Texas, “é possível definir a personalidade de cada indivíduo em função do estilo de música que prefere”, por exemplo, um admirador de blues ou jazz, provavelmente será uma pessoa inteligente, imaginativa, tolerante e liberal, ou por outro, um simpatizante de heavy metal são normal e especialmente pessoas enérgicas, atléticas, curiosas e “habituais ‘cabecilhas’ sociais”.
Tendo em linha de conta o mesmo estudo, o psicólogo britânico Adrian North, da Universidade de Leicester, realizou uma sondagem pormenorizada em 2006, e analisando os estereótipos foi possível constatar que os “indivíduos com um nível de educação superior e maiores rendimentos revelaram-se principais apreciadores de música clássica e ópera” e preferem o vinho à cerveja. De entre outras variáveis a ter em conta na sondagem, foi analisado o estado civil dos inquiridos, revelando que “os solteiros, têm maior propensão para ouvir música DJ, hip-hop, dance e house e quando iniciam uma relação passam a gostar de country, blues, pop, e música clássica”. A quantidade de vezes que se viaja também constava e segundo o estudo, os que viajam mais são fãs de dance e house. Os amantes de hip-hop estão relacionados com taxas de promiscuidade e criminalidade mais frequentes, bem como são os menos partidários da reciclagem e das energias renováveis.
É de destacar que a música é um factor que altera a química do nosso cérebro sobretudo quando está presente na maioria dos locais que habitualmente frequentamos, desde o carro ao supermercado, sendo neste último, a música um elemento que contribui para o bom humor, descontraindo e estimulando as pessoas a comprar.
Já no campo das relações amorosas ou de afectuosidade, a música é, na generalidade das vezes, tema de conversa entre duas pessoas que se acabam de se conhecer e aquando o processo de formação de primeiras impressões, ou por outro torna-se num factor de sintonia entre casais que partilham os mesmos gostos musicais.
A meu ver, este tema é bastante crítico e conciso, uma vez que a música está na base de alguns momentos de formação da identidade de género humana, e pode tomar proporções nunca pensadas, enquanto duas pessoas falam, simplesmente, de música.

Ana Luísa de Macedo Chaves



quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Sentença de Vida

Para quem viu hoje a reportagem da Sic, cujo tema é indicado no titulo ficou concerteza emocionado e preplexo com a capacidade de gerir as emoções daquela Mãe, eu fiquei!
No entanto consigo dizer aqui que elogio a sua coragem de "dar a cara" para falar dum tema tão pouco comentado "eutenásia".
Como deve doer a uma mãe falar nisto pasando pelo dia a dia que passa, sua própria filha um ser vegetativo...
Isto devia dar a "coragem necessária" aos Poderes politicos, ecligiásticos, clinicos, sociais e todos os demais, para colocarem esta questão na Assembleia da Republica, no sentido deste ser debatido, ser até alvo de um referendo, embora eu pense que a sociedade portuguesa não está de todo preparada para tal...perdão pela opinião tão directa mas é o que penso.
Outros valores se elevam (morais e religioso) mas de todo egoistas a meu ver porque ninguém merece viver o que esta mãe vive e muito menos a criança.
Quantos casos existirão? Sim, quantos que não são retratados? E como conseguem estas pessoas gerir esta situação? Que apoios têm?
Consigo apenas dizer, a esta mãe/mulher, em pensamento, CORAGEM....