blogue da disciplina de Psicologia Social da FLUP

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Identidade antes e depois da morte

Aquando a decisão acerca da temática pela qual iamos trabalhar, de imediato uma ideia surgiu no nosso pensamento. Aperceber a diferença de tratamento entre as identidades e estatutos sociais em vida e posteriormente ao findar da mesma.
Com efeito, é por demais sabido por parte da Sociedade, que antes de alguem morrer essa pessoa é tratada como alguem perfeitamente comum. De facto, será por ventura nessa fase que somos vistos realmente por aquilo que somos e pelas nossas acções, sendo responsabilizados e valorizados pelas ditas acções. Também aí, conhecemos o surgimento de detractores e inimigos da nossa pessoa/trabalho, o que nos indicia a dimensão humana que temos. No entanto, aquando o terminus da vida terrena de alguem, dá-se um fenomeno de endeusamento pessoal e até de um perdão, esquecendo todo o passado, positivo ou não, e limitando-o a um mero «Vai deixar saudades». Tal é um reflexo da misteriosidade e mesmo receio com que o senso comum lida com a morte, e aquilo que advém da mesma. Mesmo não tendo a certeza com o que acontece depois da morte, todos idealizamos ser algo pior do que estar vivo.
Para ilustrar esta nossa opinião, é possivel expôr 3 exemplos disso mesmo. Tais histórias de vida, são por demais conhecidas pela generalidade da Sociedade.
Começamos pelo ex-Campeão do Mundo de Fórmula 1, o Brasileiro Ayrton Senna. De facto, sendo um piloto conhecido pelas suas boas prestações que o levaram à conquista de 3 Títulos Mundiais, Senna torna-se conhecido por todos devido ao facto de, tragicamente, ter falecido em prova, num acidente fortissimo a 300km/h, na pista de Imola, em S. Marino. A partir desse momento, deu-se a sua glorificação, sendo por vezes esquecidos os seus defeitos e enaltecidas algumas caracteristicas que o próprio não possuía.
Outro exemplo, já este ligado ao âmbito da política, é o de António Sousa Franco. Este ex-Ministro das Finanças de António Guterres, e Professor Universitário, morreu durante a campanha eleitoral, quando encabeçava a lista do seu Partido (Partido Socialista, aínda que fosse independente) às eleições Europeias. A partir daí, o outrora «Pai do défice», tornava-se um exímio político de boa memória para o País.
Por fim, mais um exemplo desportivo, embora em menor escala, que foi a trágica morte de Miklos Fehér, futebolista do Sport Lisboa e Benfica, em pleno terreno de jogo. Embora não fosse um jogador muito amado pela massa associativa, também pouco utilizado pelo seu técnico, após o seu triste desfecho passou a ser um mito idolotrado por todos os Benfiquistas. Sabendo que existiam rumores que o jogador iria mudar-se para o Boavista FC na reabertura do mercado, a sua morte veio mais uma vez provar que apesar de ser um jogador de segunda linha, é agora um ídolo póstumo nas hostes encarnadas e até multiclubisticas.
Todos os exemplos revistos, demonstram então, que uma trágica morte provoca uma reacção sentida, e a população adora aclamar aqueles que perecem perante os factores mais inesperados, passando muitas das vezes, alguem de besta a bestial, num acto tão rápido e momentâneo como o ultimo sopro da sua vida.
Este comportamento humano é conhecido desde que é reconhecida inteligencia à Humanidade. Será que estes sentimentos se manterão nas gerações vindouras, e mesmo quando se descobrir o que há para além da morte?

Aníbal Silva
Jaime Moreira
Jorge Coelho

1 comentário:

carla filipe disse...

Além deste fenomeno de "endeusasamento pessoal e o dito perdão" tabém o inverso acontece! Aqueles que em vida levam as palmadinhas nas costas (muitas vezes por pura hipocrisia) e depois de mortos, logo ali, no funeral, já se diz o inverso do que se dizia em vida...ou seja, ainda que a obra que tenha ficado seja do melhor, na hora da morte tdo se esqueçe e passa-se de bom a muito mau (para não dizer nada impróprio, claro).
Isto é a sociedade em que vivemos.
permita-me a discordância do que diz no texto sobre o facto de ao não sabermos o que acontece com a morte, todos idealizamos ser algo pior do que estar vivo, eu acho que existe uma boa parcela de pessoas que até acreditam que vamos para um local mto bonito (O Paraíso).