blogue da disciplina de Psicologia Social da FLUP

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Estudo: "Identidade judaica: formação, manutenção e possível modificação à luz da Psicologia Social"

Introdução

Os hebreus, israelitas e judeus podem ser apresentados como aqueles que comp~em o povo de Israel, povo escolhido dentre outros povos, para receber a Lei divina.

Quanto à caracterização deste povo enquanto eleito por Deus, tal expressão deve ser compreendida como referente ao facto de que Deus escolheu os judeus para que recebessem a Sua Lei, cumprissem os mandamentos contidos na mesma e a estudassem, a fim de poderem segui-la de forma consciente. Não deve ser interpretada como significando superioridade de um povo em detrimento de quaisquer outros, devendo a eleição ser entendida como marcada pela condição de obediência, dever e serviço a Deus.

Assim, a comunidade judaica é constituída por subgrupos distintos, os quais se diferenciam de acordo com a origem histórica e geográfica que apresentam. Desse modo, estão reunidos em três grupos: ashkenazim, sefaradim e “outros”.

Os ashkenazim compreendem os judeus europeus cujas origens geográficas e/ou históricas não compreendem a espanhola ou portuguesa; sendo aqueles que falam o ídiche.

Os sefaradim são os judeus europeus de origem espanhola e portuguesa, que adoptaram o rito espanhol nas suas preces e práticas religiosas, e comunicam em domínios privados na língua espanhola ou ladino.

A categoria dos “outros” comporta as pessoas que não pertencem nem á comunidade ashkenazita nem à sefardita, sendo aqueles que vivem nos continentes africano e asiáticos.

Assim, no presente estudo “Identidade Judaica: formação, manutenção e possível modificação à luz da Psicologia Social” de Solange Epelboim, participaram 80 israelitas, onde se optou por conceder destaque aos factores referentes à origem ashkenazita ou sefaradi, ao género e ao nível de escolaridade.

Composição do universo de pesquisa

Assim, quanto à idade, compreendeu pessoas entre os 15 e 81 anos.

Quanto ao estado civil, 20 participantes eram solteiros, 49 eram casados com pessoa israelita, dois com pessoa não-israelita, seis eram separados de pessoa israelita e um era separado de pessoa não-israelita.

Quanto à filiação, todos eram filhos de pais judeus; 56 informaram ter filhos.

Quanto à crença e prática religiosa, 59 pessoas apresentaram-se como não-ortodoxas, duas como tradicionais, uma como religiosa mas não extremista, uma como religiosa liberal e uma como de uma categoria entre foram ortodoxa e não-ortodoxa.

Instrumento da pesquisa

Foi utilizado um questionário, constituído de três partes, onde a primeira compunha-se por instruções destinadas aos participantes da pesquisa. A segunda parte consistiu em dados pessoais referentes a: idade, género, nível de escolaridade, profissão, estado civil, paternidade ou maternidade, filiação, origem ashkenazi ou sefaradi e a concepção ortodoxa ou não-ortodoxa do Judaísmo. A terceira parte consistiu num questionário de nove perguntas abertas.

Resultados

Quanto à participação no processo de formação da identidade judaica (factores educacionais, culturais e religiosos): 87,5% dos ashkenazim e 85% dos sefaradi declararam fazê-lo por meio de acções educacionais, religiosas e sócio-comunitárias.

Quanto à manutenção da identidade: enquanto os ashkenazim indicaram maior importância aos aspectos culturais e sociais, os sefaradim apontaram a participação de factores emocionais e vincularam, ao aspecto social, o compromisso comunitário.

Quanto a mudanças na expressão do Judaísmo: 92,5% dos ashkenazim e 85% dos sefaradim responderam perceber modificações principalmente no âmbito religioso; apontando como factores o desenvolvimento mundial (progresso, novas condições de vida em sociedade, exigências do mundo moderno, etc.)

Quanto ao estabelecimento de relações significativas de amizade e de amor entre judeus e não-judeus: cerca de 60% dos ashkenazim e 47,5% dos sefaradim apoiaram tais relacionamentos, enquanto que 35% dos ashkenazim e 30% dos sefaradim eram a favor de relações de amizade e contrários às de amor.

Quanto a ser contrário ao estabelecimento de relações de amizade e amor: nenhum ashkenazim revelou tal condição e 10% dos sefaradim declararam-se nesta posição.

Quantos aos acordos de paz desenvolvidos entre Israel e os países vizinhos: 80% dos ashkenazim e 75% dos sefaradim mostraram-se favoráveis; mas 10% dos sefaradim não se mostraram de forma explícita se eram favoráveis ou não a tais acordos, de modo que as respostas não foram consideradas.

Discussão dos resultados

A configuração da identidade judaica compreende aspectos religiosos, culturais, educacionais, sociocomunitários, relativos à descendência e à conversão religiosa, de identificação com Israel, emocionais, raicionais, de atitude, entre outros. A apresentação de respostas comuns, pelos ashkenazim e sefaradim, parece apontar para a condição de igualdade entre estas pessoas, isto é, o facto de pertencerem a uma categoria primeira e maior – ser israelita.

A articulação mencionada vem ao encontro de que a Torá compreende, através de recursos descritivos, normativos e avaliativos, toda a legislação civil e religiosa que deve perpassar a existência dos israelitas.

Os aspectos educacionais envolvem modos formais de obtenção e transmissão de conhecimentos judaicos, como escolas, sinagogas e bibliotecas, e modos informais. A sinagoga exerce função educacional, na medida em que a religião judaica defende a obediência aos mandamentos divinos, porém uma obediência consciente e esclarecida, a qual seja marcada pelo estudo da palavra de Deus.

Os aspectos sociais estão vinculados às dimensões acima citadas, pois o contacto com outros indivíduos ou pequenos grupos israelitas ocorre em âmbito religioso, cultural e educacional. Nos aspectos comunitários, percebe-se o compromisso em prestar-se assistência à comunidade judaica, compromisso este assumido por diversas instituições, formais ou não.

Quanto aos factores étnicos, também estão associados e revelam a condição do indivíduo perceber que pertence a um grupo que se diferencia dos demais pela história, crenças religiosas, valores, tradições, etc.

Assim, os factores de identificações com Israel também participam neste delineamento, pois são factores que expressam compromissos emocionais, racionais e de atitude para com Israel podendo ocorrer no âmbito religioso, cultural, político, entre outros. A existência de israelitas em diversos locais do mundo, e os inúmeros episódios de perseguição sofridos, contribuem para a presença de aspectos relativos à identificação com Israel, presença revelada nos processos de formação e manutenção da identidade judaica.

Por fim, os factores relativos à descendência e à conversão foram articulados aos aspectos religiosos e étnicos, pois representam as duas formas possíveis do indivíduo ser considerado judeu.

Quanto ao processo de modificação da identidade judaica, acredita-se que as respostas fornecidas, relativas às transformações na expressão religiosa apontem para diferentes formas de exercício desta dimensão, mas não para o abandono da mesma.

Deste modo, acredita-se que a identidade judaica, mesmo compreendendo contínuos processos de formação, manutenção e possível modificação, apresente contornos comuns e bem delineados; o que não significa a rigidez desta configuração parecendo assinalar que as mudanças ocorridas não consistem em drásticas rupturas, mas, sim, em discretas modificações quanto ao grau de expressão dos referidos aspectos.

Em tom de conclusão, parece que todos os judeus ou não-judeus, estão sujeitos a condicionamentos históricos que interferem na sua visão do mundo e na interpretação que concedem a si mesmos.

_____________________

A partir do estudo “Identidade judaica: formação, manutenção e possível modificação à luz da Psicologia Social, disponível em: http://pepsic.bvs-psi.org.br/pdf/psicousf/v9n1/v9n1a11.pdf

Texto de: Margarida Roque, Francisco Magalhães e Bernardo Marques

1 comentário:

José Azevedo disse...

Deve-se evitar textos tão longos...principalmente se existir um link que nos permita lê-lo.
Mas o que me interessa mais é o que tu achas deste texto.