Trago esta imagem da artista japonesa Mariko Mori, não somente porque aprecio imenso o seu trabalho mas porque de certa forma responde bem ao processo das questões ligadas à formação da identidade pessoal em confluência com aquilo a que Berger e Luckman pela tradição fenomenológica apelidaram de "mundo vida" - a sociedade composta pelos seus membros e institucionalizada sob os mais diversos códigos semânticos enformados e transmitidos pelo conhecimento - senso comum - partilhado. É este que confere sentido à vida social permitindo que esta decorra com relativa coesão. Antes de ser artista a Mariko, de origem japonesa, foi modelo durante vários anos, o que a levou desde cedo a viajar pelos quatro cantos do mundo, alterando o seu olhar no mesmo sentido em que era objecto dos olhares dos outros pelo protagonismo que a sua presença nas páginas dos editoriais de moda lhe impunha. Conseguirão pressentir decerto que essa trajectória social influenciou enormemente o trabalho que ela realiza na actualidade enquanto artista e que neste sentido qualquer dicotomia entre identidade pessoal e social se torna apenas compreensível pelo seu possível enquadramento pedagógico porque, e até como já foi referido nas aulas, ambas as dimensões são aspectos indissociáveis do Self. Este auto-retrato de nome tem uma particularidade, a cor dos olhos e do cabelo é semelhante à cor do globo que ela segura entre mãos relembrando que o self / sujeito, exterioriza a interioridade projectada pelas objectivações (o globo, neste caso, enquanto objecto realmente visível e com significado ), sendo por conseguinte o self , também ele real e objectivável pelo globo/mundo a partir do momento em que se exterioriza nele, no nascimento. Produto/produtor, sujeito/objecto, eu/outro, é da soma destes binómios que resulta a identidade enquanto processo contínuo e em permanente mudança (as situações de tensão ocorridas pelo possível confronto não se esgotam então na adolescência). De forma muito simplificada, Mariko demonstra que num mundo branco, (e aqui podemos nos permitir atribuir a conotação que bem entendermos à cor, eu aqui mantenho a do professor) insípido, o olhar também reflectirá o mesmo carácter uniformizado/uniformizante. O multiculturalismo para além dos seus aspectos imediatamente mais teorizáveis prende-se apenas com a aceitação da pluralidade em oposição às visões do mundo estritamente rigidificantes tão presentes nos vários conteúdos de consumo diário. Acho que posso garantir com algumas certezas que os autores da Escola Crítica de Frankfurt responderiam a isto com uma solução: a Razão, com o R maiuscúlo Hegeliano e nisto também penso que consensualmente todos os meus colegas do 2º ano concordam comigo... é senso comum. :)
blogue da disciplina de Psicologia Social da FLUP
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
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