"Só nos consideramos afortunados quando temos tanto ou mais do que as pessoas com quem crescemos, trabalhamos, que temos por amigas e com quem nos identificamos na esfera pública.
Se formos obrigados a viver num casebre frio e insalubre, subjugados à ordem rígida de um aristocrata, senhor de um grande castelo bem aquecido, e no entanto verificarmos que os nosso iguais vivem nas mesmas condições que nós, então a nossa condição parecer-nos-á normal; lamentável, é certo, mas estará longe de ser solo fértil para o sentimento de inveja. Já se tivermos uma casa agradável e um emprego confortável, mas cometermos a imprudência de comparecer numa reunião de ex-colegas de escola e viermos a saber que alguns dos nosso velhos amigos (não existe grupo de referência mais poderoso) estão a viver em casas maiores do que as nossas, adquiridas com os proventos de empregos mais cativantes, é bem provável que voltemos para casa a alimentar um desagradável sentimento de infortúnio.
É essa sensação de que poderíamos ser outra coisa que não aquilo que somos - uma sensação transmitida pelos feitos superiores daqueles que tomamos por nossos iguais - que gera um sentimento de ansiedade e ressentimento”
Botton, Alan de -(2005) Status Ansiedade. Lisboa: Dom Quixote. ISBN: 972-20-2811-1.
- Enquanto seres humanos únicos possuímos uma identidade própria que nos confere sentimentos de unidade pessoal e continuidade temporal indispensáveis para a vivência em sociedade.
Existem dois géneros diferentes de identidade: a identidade pessoal e a social. A primeira, apesar de possuir uma definição paradoxal, remete-nos para as características pessoais que tornam o actor social singular, único, isto é diferente de todos os outros. Por sua vez, a identidade social está associada às nossas funções enquanto actores sociais e ao nosso sentimento de pertença face a determinados grupos.
A identidade pessoal advém de processos sociais de assimilação e diferenciação social, ou seja, comparações sistemáticas com os nossos grupos de referência. São perante estes grupos que o actor social se identifica, exercendo uma grande influência, visível ou não, sobre o self - remete-nos para um conjunto de percepções que cada indivíduo constrói sobre quem é em relação a si mesmo, aos outros e aos sistemas sociais. O próprio estatuto social que cada indivíduo ocupa será uma das dimensões de influência sobre o self.
Em suma, procedemos a comparações perante os nossos iguais e a partir delas formulamos um senso geral sobre os outros e acima de tudo sobre nós mesmos. A condição do outro torna-se fundamental para a nossa própria condição, uma vez que ao vermos o outro em circunstâncias inferiores às nossas construímos uma imagem mais positiva de nós próprios. Se assim é, a infelicidade do outro torna-nos mais felizes?
Texto por: Ana Soares, Ana Mafalda, Flávio Fonseca
1 comentário:
aprecio que tenham aceitado o risco do tema...vejam o livro a felicidade paradoxal "g. Lipvetsky
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