Os ambientes virtuais abrem portas a novas experiências identitárias. Ao entrarmos num mundo virtual, no qual as nossas características físicas e pessoais não são directamente visíveis e evidentes para os outros, encontramos uma forma de comunicar, que implica intrinsecamente novas formas de ser, de mostrar, ou de negociar as identidades em jogo.
A possibilidade de entrar numa nova comunidade, onde qualquer informação pessoal é directamente mostrada para os outros, proporciona aos actores a construção de uma identidade múltipla, composta por diversas identidades individuais específicas.
Considerações recentes abordadas pela psicologia social, sobre a construção da identidade individual e social, revelam como estas são identidades dinâmicas e não estáveis. Este facto comporta implicações, as quais se traduzem na construção da identidade através da interacção, fazendo notar que estas identidades não são apenas dependentes do que cada um decide sobre si em determinados contextos sociais, mas também do que a dado momento adquire por parte dos diversos contextos, pressupondo um papel activo e preponderante por parte do indivíduo. Estes contextos envolventes guiam e moldam cada ser humano, interferindo assim nas suas escolhas quotidianas. Pode-se assim verificar como o contexto dá relevância a algumas características específicas de cada pessoa, fazendo variar essa especificidade com o tipo de comunidade existente, interferindo assim nas identidades formadas dentro destas.
Por isso, a construção social da identidade no ciberespaço, através das relações virtuais online encontra-se assim no seu auge, visto que os indivíduos interagem cada vez mais frequentemente com recurso às tecnologias, nomeadamente a Internet, através das suas mais diversas potencialidades!
Será que a construção da identidade tem sido influenciada pelas relações virtuais? Em que medida a identidade virtual é totalmente tradutora da identidade real?
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3 comentários:
De facto, o ciberespaço é um mundo com potencialidade infinitas e permite a construção de uma identidade que, de acordo com a nossa preferência, poderá ou não corresponder ao que, na realidade, somos. Porém, não pensemos que acabámos de encontrar o paraíso. Em cada login que fazemos, começamos a nossa exposição. Todos os dados que introduzimos ficarão registados, seja para fins estatísticos, seja na base de dados daqueles que se dedicam a espiar a vida dos outros por simples voyeurismo ou com más intenções.
As crianças e jovens, os usuários mais frequentes, estão por isso, muito mais expostos aos perigos. Existe um projecto - o DADUS - que pretentde chamar a atenção dos utilizadores da net para os perigos associados à divulgação de dados privados: fotos, endereços, códigos secretos, e até mesmo gostos e preferências. São por demais conhecidos casos de "amizades" construídas na net que acabam bastante mal. Ao lermos os jornais, conhecemos casos de indivíduos que perderam dinheiro com burlões e outros que viram a sua vida privada devassada de um momento para o outro, pois ficaram vulneráveis ao "ataque" de terceiros sempre que acediam à Internet.
Creio, pelos motivos apontados, que teremos de ser cuidadosos em relação ao nosso comportamento enquanto internautas, assim como o somos quando estamos num local desconhecido. Cuidarmos que, por estarmos em casa, defronte de um computador, podemos descansar, é uma atitude néscia. Há que prestar muita atenção ao que se faz, ao que se diz e a quem se diz.
A construção da identidade é influenciada pelas relações virtuais. Em muitos dos casos, recorre-se ao mundo virtual para estabalecer relações (havendo aqui o pressuposto de que existe uma grande dificuldade em criar relações sociais no "mundo real"). Dado este facto, as relações virtuais poderão e virão (quase de certeza) influenciar a construção da identidade do próprio indíviduo, na medida em que este tem uma interacção constante com o mundo virtual, dissipando e moldando a sua própria identidade, aquilo que pensa e sente em relação a si mesmo.
As redes sociais imprimem cada vez mais uma importância significativa na construção da identidade, principalmente nos jovens. Numa era cada vez mais tecnológica, o contacto físico entre os indivíduos deixou de ser uma preocupação, estando à distância de um "clique".
É notória a falta de interacção das pessoas em substituição das relações mediadas em computadores e isso revela-se na sua identidade. Estabelecem-se relações virtuais em que numa situação normal do quotidiano, isso não se verificava.
A ilusão de que "na internet tudo é mais fácil" onde não se vê um rosto pode ter consequências desastrosas. Muitas vezes constrói-se uma identidade, um "novo eu" que não corresponde à realidade.
Cátia Cardoso
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